Chuva de sapos política.

Enya - Only Time
<\embed> src="http://www.mp3tube.net/play.swf?id=89c798c99e72ec2b5d70e420150e4289" quality="High" width="260" height="60" name="mp3tube" align="middle" allowScriptAccess="sameDomain" type="application/x-shockwave-flash" pluginspage="http://www.macromedia.com/go/getflashplayer" wmode="transparent" menu="false" Tinha a cabeça recostada sobre o vidro da janela do lado do passageiro no carro de sua mãe. Seu braço esquerdo a ajudava a apoiar-se na parte saliente e interna da porta do carro. Sua mãe tamborilava os dedos no volante, impaciente e bufante. A música que o CD player moderníssimo tocava era Only Time, de uma das bandas que mais gostava: Enya. A garota acompanhava a letra da canção apenas com os lábios, sem interferência das cordas vocais.
As gotículas de água batiam e escorriam pelo vidro. Ela acompanhava o movimento que água fazia ao cair. O céu, escuro e mal-humorado, enviava, além da chuva, uma série de trovões e relâmpagos furiosos. Começou a fazer as contas de quanto tempo fazia que não via uma chuva pacífica, como dizia. Chuvas pacíficas para ela eram aquelas típicas chuvas de verão que caíam sozinhas, sem acompanhamento de trovão, relâmpago, granizo ou, quem sabe, sapos. Afinal, uma chuva de sapos era o que mais precisava ultimamente.
Queria uma chuva de sapos para que pudesse mudar, para que pudesse deixar de lado todos os sentimentos que não gostava, para se tornar alguém completamente novo. Queria passar por uma total metamorfose.
"Ora essa, mas que pensamento mais egoísta", refletiu ela. Sim, era egoísta, o pior de tudo é que sabia que o egoísmo era parte do ser humano, sendo mais evidente em algumas pessoas do que em outras, mas não havia como negar, todos o tinham em algum ponto de seu corpo, em algum momento de sua vida. Porém, aceitar o egoísmo e fazê-lo cada vez mais evidente era o que tinha colocado o mundo em que vivia naquele estado deprimente.
O mundo em que vivia era um mundo que de maneira exuberada esbanjava estupidez, ignorância, egocentrismo, ganância, egoísmo e cegueira opcional. Tudo isso gerava desgraça, pobreza, catástrofes e todo o resto que só este mundo podia oferecer da melhor maneira.
Talvez quem realmente precisasse de uma chuva de sapos era o mundo, e não apenas ela. Talvez quem merecesse uma chuva de sapos eram aqueles filhos das putas que tinham nações inteiras na mãos e que, ao invés de fazer algo para melhorá-las, apenas exploravam os filhos destas para seu próprio benefício. É, talvez quem merecesse uma chuva de sapos era, sim, o dinheiro daqueles desgraçados. Não era questão de simplesmente igualá-los a todos os outros, de simplesmente apresentar-lhes a pobreza. Mas era questão de fazê-los entender o quão difícil era ter que começar do zero e conseguir chegar onde chegaram com puras honestidade e força de vontade.
Ah, não, mas é claro que isso jamais seria feito, afinal, a maioria deles era burra feito uma porta, a maioria deles não sabia o que estava fazendo ali, muitos deles tinham como profissão cantar, espalhar fofocas ou qualquer outra coisa do tipo que nada tinha a ver com a política. Aliás, eles não eram tão burros assim, não. Eles eram até bastante inteligentes, isso é, inteligentes o suficiente para sentirem mais ganância e bolaram mais algum tipo de imposto ou lei apenas para ganharem mais dinheiro.
E, afinal, tanto dinheiro para quê? Tinham tanto dinheiro que mal conseguiriam gastá-lo por completo até o final de sua vida que, se dependesse dela, não duraria por mais muito tempo, não. A propósito, ela sempre achou toda aquela coisa de dinheiro algo bem engraçado. Afinal, o que era o dinheiro? Apenas cédulas de papel uniformizadas com a mesma cor e símbolo e que servia para adquirir outros bens. Sim, aquilo era quase como um "vale-benefício", aliás, não passava disso. Só achava então que eles poderiam poupar esforços e papel e fazer um outro tipo de vale, ou seja, algo mais prático, não sabia como, queria apenas que fizessem, afinal, o ser humano era suficientemente insano para isso. Achava ainda mais engraçado as contas nos bancos e os cheques, o que era tudo aquilo?! No final do mês, os empregados recebiam seu salário, que era jogado diretamente para suas contas em seus respectivos bancos. Eles tinham o simples trabalho de ir até o banco e checar suas contas, abriam-nas e viam o visor da tela mostrando o número equivalente ao valor que recebiam. Quando queriam comprar algo, escreviam um cheque e o entregavam ao vendedor, que passava-o à loja, que recebia-o e adquiria aquela quantia. Porém, não podia-se dizer que era uma quantia em dinheiro, eram apenas números, por Deus! Eram apenas números que diziam equivaler a dinheiro! Mas, por Deus, como sabiam que realmente equivalia?! Eram apenas números escritos em papéis! Achava bastante engraçado o fato de poder adquirir-se bens apenas escrevendo números.
Sua mãe deu um súbito berro, xingando o motorista da frente que não havia avançado no tempo em que a luz verde do farol permitia. A garota sobressaltou-se e a olhou. Agora suas reflexões haviam partido. Apenas as teria quando uma outra chuva caísse. Talvez apenas quando a chuva de sapos tão esperada caísse, afinal, a sociedade a instruía para não refletir sobre tais assuntos.

Até semana que vem, meus amores.
Natália Albertini.

Comentários

Rafa. disse…
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