Rubis.

 Amadeus Mozart - Lacrimosa - Requiem
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Remexeu-se e se ajeitou debaixo de sua capa rasgada para espantar o frio. Ultimamente, tinha acordado inúmeras vezes no meio da noite. Simplesmente parecia que aquele local não lhe era mais tão seguro. Nenhum lugar no mundo continuava a ser seguro para os desfavorecidos economicamente.
A barba estava mal feita, sua calça, rasgada, e o cabelo cobria-lhe o campo visual, mas ainda assim podia ouvir e enxergar muito bem. Recostou a cabeça na parede e semicerrou os olhos, deixando apenas uma pontinha aberta. Percebeu uma sombra na janela da direita. Com certeza era a criada Alberta vindo trazer a água e cobrir a filha de seu mestre.
Giuseppe era um desgraçado que vivia nos fundos daquele castelo há anos. Conhecia quase todos os criados por nome, já que estes, de vez em quando, traziam-lhe ás escondidas algum resto de comida. O dono do castelo era Dom Bartolomeo, cuja filha preferida tinha por volta dos dezessete anos e levava o nome de Loretta. A bambina tinha olhos negros como os cabelos que reluziam a noite. Era um primor.
A sombra desapareceu assim que a luz do quarto foi acesa. Ouviu-se um grito de desespero e profunda agonia, como o grito que imaginamos ouvir saindo da boca da figura de Edvard Munch em O Grito. Algo ruim acontecera.
Os olhos de Giuseppe se abriram completamente e, ao abaixá-los, tirando-os da janela, fixou-os num contorno quase humano ao pé da árvore que tinha as folhas balançadas levemente pela brisa da madrugada.
A figura aparentava ter cabelos curtos e lisos, beirando a linha do maxilar. Parecia ser esbelta, porém suas vestes eram negras, o que impossibilitava maior visualização. Tentou enxergar um pouco mais, para sua infelicidade. Viu dois rubis brilhando.
Sobressaltou-se e decidiu que o melhor a fazer era voltar a dormir. Cerrou novamente os olhos, tentando evitar a curiosidade.
Impossível. Nessas horas, a curiosidade é quase sempre maior que o medo. Abriu apenas o olho esquerdo e, pela ponta deste, enxergou os rubis agora a seu lado.
- Buona sera, signore.
Outro grito. Menos estridente, mas ainda mais apavorado.
Sangue tilitando no chão e manchando a barba mal feita.


Natália Albertini.

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